GERAÇÃO TOMBAMENTO: O “LACRE” COMO EMPODERAMENTO ESTÉTICO ENTRE JOVENS NEGRAS URBANAS
A geração tombamento é um movimento estético urbano muito importante quanto ao fortalecimento e à autoestima de jovens negros urbanos no Brasil. O movimento ganha força nas redes sociais, nas periferias, nos espaços dentro e fora da militância, nas comunidades LGBT, nas festas (Batekoo/Don’t Touch in My Hair/Afrobapho & Tombo) e é representado por personalidades negras: Magá Moura, Carol Conka (“já que é pra tombar, tombei”), Liniker, As baianas e a Cozinha Mineira e Tássia Reis. A palavra tombamento se alinha ao termo empoderamento, e acredito que foi a partir dele o surgimento do significado de tombar: “fechar”, “lacrar”, “arrasar”, “divar”.
De acordo com a feminista negra Djamila Ribeiro no texto “O empoderamento necessário” para o portal Mulher Executiva, se empoderar parte de um conceito coletivo no sentido de proporcionar a si mesmo e aos outros mecanismos de enfrentamento para que juntos possam romper as estruturas racistas, sexistas, homofóbicas, ou seja, o combate de todas as formas de opressão para uma sociedade mais justa e igualitária no respeito às diferenças. Por conseguinte, se empoderar é identificar e compreender o que se é enquanto indivíduo e parte de um grupo desprovido de justiça social.
O Brasil tem como base a escravização, aprisionamento e subalternização de corpos negros. Mesmo após a abolição formal, os negros continuam a sofrer com os resquícios escravocratas, quais sejam, más condições de moradia, saúde e educação. Segundo Neuza Santos SOUZA (1983) “o branco, a brancura, são únicos artífices e legítimos herdeiros do progresso e do desenvolvimento do homem. Eles são a cultura, a civilização [...]”. Em razão disto, o racismo é um sistema de opressão que humaniza brancos e desumaniza negros e, por este fator, os brancos possuem garantia legítima através das instituições, enquanto os negros reivindicam tratamento igualitário até os dias atuais.
Esteticamente também é notória a supremacia branca, sendo a mesma referenciada, posta como modelo nas capas de revistas, comerciais, desfiles de moda e editoriais. As características do negro sempre são colocadas como excludentes, em segundo plano, ou, quando mostradas, assumem um papel exótico, em desvio da normalidade. Desta forma, todos esses aspectos referentes à estética negra resultam de uma construção histórica baseada na escravidão e racismo. Segundo GOMES:
Durante séculos de escravidão, a perversidade do regime escravista materializou-se na forma como o corpo negro era visto e tratado. A diferença impressa nesse mesmo corpo pela cor da pele e pelos demais sinais diacríticos serviu como mais um argumento para justificar a colonização e encobrir intencionalidades econômicas e políticas. Foi a comparação dos sinais do corpo negro (como o nariz, a boca, a cor da pele e o tipo de cabelo) com os do branco europeu e colonizador que, naquele contexto, serviu de argumento para a formulação de um padrão de beleza e de fealdade que nos persegue até os dias atuais. (2002, p. 42)
Em vista disso, a estética negra e suas características (nariz, boca, cor, cabelo) são colocadas no lugar da feiura e os aspectos físicos da branquitude são estabelecidos como padrão de beleza a ser seguido por todos, inclusive aos negros. É perceptível essa imposição da estética branca como referência de beleza ao se estabelecer, por exemplo, que alisar os cabelos e tentar práticas de clareamento de pele devem ser intentados pelo negro para que se torne belo.
Assim, romper com a estrutura racista que permeia a nossa sociedade também se faz a partir do reconhecimento da beleza em outros tipos físicos que não apenas o branco. Ao reconhecer como belo os traços característicos do negro, há o empoderamento e resgate da autoestima da população negra. O papel da geração tombamento nessa retomada da autoconfiança e de força é fundamental na luta contra os estigmas recaídos sobre pessoas negras, afinal só é possível tombar quando se está com sua altivez elevada!